Humanidade não significa nada 
se você não tem com quem se importar.
E penso nisso quando olho fundo
os olhos de meu pai.
Se um dia ele se for
e os noticiários anunciarem sua partida
nada será de mim. 
Não serei mais que um corpo em carne viva
e sangrarei lágrimas de orgulho.
 Suplicarei em
ranger de dentes 
as alegrias das tardes de sábado,
a polidez de suas pequenas entradas calvas e
sua voz rouca ao fim de mais um dia de trabalho.
Suas mãos,
sentirei falta de cada calo em suas mãos 
e de como eles me ensinaram o que é trabalho.
Se um dia meu pai se for 
serei o monólogo sublime da saudade
e ao luar, rezarei a Deus 
por tudo aquilo que nos une
que é bem maior do que o sangue que nos envolve.
Se um dia eu o perder
meu coração palpitará ferido 
ao ver em seu inventário
a obra de arte mais preciosa
           seu amor.
Se o véu negro da morte o vier abraçar 
implorarei por mais um olhar
e escreverei a mão livre. 
Fazendo da tinta meu sangue, 
da caneta meus dedos 
e do papel sua lápide.
Aqui jaz a saudade.
