Sou — se me permitem o uso da primeira pessoa, por 
mais que isso, me parece, diminua aos outros, e a mim, a humildade do 
texto — sou, não um apaixonado pela literatura, mas um submisso. Minha 
relação com a linguagem literária é meramente escravocrata. Não tenho 
anseio próprio. Escrevo porque, se o deixar de fazer, não adoeço, não 
morro, pelo contrário: posso viver tranquilamente, como qualquer outro —
 e é isso que me aterroriza! Minhas poesias são, em suma, um eterno 
desabafo sob o qual me escondo, corajosa ou covardemente, o que, 
obviamente, à poesia não tem muita diferença. Nem ao teatro, à prosa, 
aonde às vezes a necessidade me impele. Curso Letras, também, e já temos
 aqui informações o bastante. Que importa aos outros minha existência 
superficial, mimética de si mesma, sem relação ao signo? Aliás, sem 
signo? Não admito! Bem antes da polêmica sobre as biografias, já me 
censurava. Não me autorizo a escrever sobre mim, e daí nasce a minha 
arte extremamente pessoal. A total liberdade de expressão é somente um 
álibi para militar uma bandeira desprovido de arte — e dão o nome a 
isso, adivinhem?, de arte. Não admito! Técnica e fértil, a autocensura é
 a nossa grande inspiração.
Vinícius Mahier

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