Teu mármore abrasa! E erotiza 
Sensações corpóreas, 
Como a vida! 
(Fique a alma tranquila a contemplar-se além 
Das sensações, 
Criando-as, ao longe...) 
Tantas dúvidas há em seus poemas, 
Que eu me perco sempre 
Descobrindo neles 
Algo além de uma beleza frágil 
Que me diz, me ouve, 
Me transcreve 
Na magia de aceitar temores, e recuos, 
Como cruz em que a palavra 
Finca as guerras (e as estrelas!...) da existência 
E por elas escorrem... 
(Teu mármore é brasa, é pele, é sangue, 
É arte!) 
Mundo, vasto mundo 
Se eu me chamasse Mirele 
Eu seria uma dúvida 
Não seria uma solução. 
Tanta beleza há em ser dúvida 
E coexistir 
Com a força!... com a garra!... com a coragem! 
Com a tristeza, que é linda, pois perece 
Como a artista que alimenta-a 
E, redentora, se salva 
E renasce!... 
Diariamente, procurando a falta! 
— Eu não deveria te dizer, 
Mas essa cruz, 
Essa palavra, 
Esfaqueiam o meu espírito sem mármore, 
E apenas sei sangrar 
O avesso da solidão trivial: 
Sua solidão, possível e amorosa... 
Que zelo, solitário... 
(Ao longe nossas almas dão-se as mãos...) 
                                                                     Vinicius Mahier 
