sexta-feira, 31 de maio de 2013

A procura da falta



Procuro o mais triste
a tristeza do verbo.
Procuro na ausência que você deixou
presente eterno.

Vejo teu rosto em meu reflexo no espelho
meu coração partido ecoa minhas mágoas
dor em voz baixa.

A busca
o corpo que busca o corpo
a boca que busca a boca
a pele
a saliva
o entrelace de pernas.

Sutis movimentos
outrora, hematomas.
A alma que busca a alma
o sexo.

Meras recordações
notórias inspirações
utilidade literária a serviço das palavras
dos verbos.

A procura da falta.

quinta-feira, 30 de maio de 2013

Crepúsculo

Quanto tempo dura a noite?
O vermelho ao entardecer vem chegando
trás consigo as lembranças.

O frio da noite fervilha meus pensamentos
o silêncio barulhento
ecoa na alma
eu, meu lápis, sete demônios mais fortes
ferido de morte.

No breu escrevo
no escuro das claridades
utilizando palavras escritas como alternativa à realidade
crepúsculo.
A tristeza fazendo arte
cheia de voz;
minh'alma
desgraçada.

Nas janelas rostos desconhecidos olham-me
encaram-me
como um sonho mal.

Loucura lúcida
sou um louco lúcido, mais louco que lúcido
insano sôfrego.
Coração cortado à lâmina
aprendiz de morte
lápides quentes sobre restos podres, frios.

Daí minha razão de escrever
como alternativa ao viver, sofrer
e não morrer.
Jogo de palavras
jogo de pessoas,
verbos e paixões.

O findar do breu dá lugar a aurora do dia
e aqui se finda o tal poema de magia,
a vida.




domingo, 26 de maio de 2013

Limites literários

Como saber do caminho?
A diferença do amador e o predestinado,
qual?

Escrever para atingir
atingir para escrever,
qual o limite?
Qual?

A frieza de um poeta,
sua máscara do passado.
Autobiografia.

Subjetivar situações
forjar pseudônimos
adjetivar variáveis.

Manobras.

Mascarando sua autobiografia
atingindo outras.

O amor colegial
sua não continuidade,
o álbum de formatura
menos importante,
as páginas do coração.

A falta da figura modelo,
infância.
Diariamente,
máscaras.
Qual o limite?
Limite literário
limite pessoal,
Qual?



sexta-feira, 24 de maio de 2013

Tristes versos

Às vezes é preciso morrer
é preciso morrer às vezes
um pouco por dia.

É necessário desejar
desejar incessantemente por minúcias
os dizeres de sua lápide.

É preciso saber
saber se deixará mais que essas mal traçadas linhas
esses tristes versos.

Às vezes você deve tentar entender
entender se sua ausência vai gerar apenas uma boa lembrança
ou lembrança alguma, talvez.
Por tal razão, válido se torna morrer
um pouco por vez
às vezes.

Saber o que vale
se esse tal bucolismo nostálgico diário,
essa agonia e imprecisão de viver
fazem ou vale o tal sentido, fazem?

Como saber?
Impossível prever...
O que nos resta?
O indecifrável, sôfrego cotidiano

tristes versos.   

quinta-feira, 23 de maio de 2013

Rosas de sangue

E a flor que nasce na terra preta do cemitério significa a esperança daqueles que acham uma alternativa à vida morrendo de vez em quando... (Mirele Longatti)





quarta-feira, 22 de maio de 2013

Imperativo verbo novo





- Carpineje-se já!
- Maiakovski-se depois,
- Alencar-se por fim.

A despropósito...

Em minha vã concepção,
alguns julgarão
mas
verbos não se conjugam, NÃO!
E, se eu quiser me ordenar?
Sim, a mim, o próprio
eu mesmo, é!
Alguém para impedir?

- Gullarme- ei
utilizando a poesia,
como o próprio o fez
seu freguês,
redenção e libertação de um exilado,
alternativa final
a seu exílio mental

- Adeliei-me
buscando a tal "religiadade"
a singeleza de suas orações adaptadas
mais a brutalidade de uma insana realidade

- Lispectre-se!
Liberte-se
escreva-se

IMPERE-SE!


(Mirele Longatti)

terça-feira, 21 de maio de 2013

Casa de Vó!







5:30, acordo.
O cheirinho de café da vó desperta,
hipoglicêmica
sentada, ali.

O banquinho de toco,
meu esconderijo preferido em sua cozinha.
Um tatuzinho passando 
e as lembranças da infância recordando
ah, a infância.

Enquanto me recordo e acordo
os minutos cronometrados se findam.
É hora de ir
Tentar começar um novo dia.

Antes: - BEEEEENÇO VÓ!
6:20
Deus te abençoe minha filha!
O cheirinho de café desperta
é o começar de um novo dia.

Mirele Longatti