sábado, 20 de julho de 2013

Redentora arte

Somente a arte, eclodindo a humana mágoa
abranda as rochas rígidas, torna água.
Como uma palavra de fé, que nunca falha.
Palavras escorrem pelo papel.

Derramo pequenos diamantes nos olhos
as maiores guerras de minha existência sentenciaram-me.
Enfrento o gigante Golias do tempo
vestindo a armadura de um guerreiro, Davi.

Força, garra e coragem
travando batalhas diárias, limite do corpo.
Finalidade de estame.
Buscando a libertação da  alma, estrangulada no cotidiano.

Energia intra-atômica liberta
redenção e libertação de um exilado.
Suicídio graduado por moléculas de húmus
acordo de candeeiros apagados.
Frio paralisante de movimentos
reduzindo-me.

Visitei os pomares de Deus
a esquecer a tristeza que açoita minhas veias de aço.
Possuindo a singeleza de minhas orações adaptadas
que se contrapõem à brutalidade da realidade.

Desejo que todos os céus sejam estrelas.
Que, crucificada em mim, sobre os braços de Deus
a arte me acolha em redenção.
E
as
palavras
escorram
do
papel.  




domingo, 7 de julho de 2013

Sonho




Risada doce na boca amarga,
subi um punhal nos ares por ter descido uma flor.                      
Suponho que seja ao dormir para te ter nos sonhos.       
Querer morrer para não acordar
apenas sonhar. 
E em minhas pupilas de aço, ao decorrer de mais um dia                     
a falta me corrói os dedos e intenta em destruir  
cada verso que criei como cláusula pétrea.        
Ainda sim vivo, e prossigo. 
    

Vivo de sonhos.            
Do prazer momentâneo no intervalo da desgraça.  
Sonhos eu sonho.            
Porque posso torná-los perfeitos     
posso queimar cada gota da realidade,                  
as que me impedem de chegar até você. 


Desta forma sigo.      
Com a tristeza nutrindo minha vaga essência   
vivendo nas sombras das sombras                 
um mundo vago de aparências que se perde aos poucos  
sem consistência ou consequência.           
Ainda sigo.        
Sigo almejando que nosso encontro esteja apropriadamente marcado   
murmúrio do desejo opondo-se a amplitude do tempo.


Éter e chamas irrompendo em minhas veias.
Necessito do desdém e da calma dos mártires para prosseguir
Meu sangue já escorre grosso com a lama de minha pele 
As agonias se tornaram algumas de minhas muitas mudanças de roupa    
e, desta forma, lanço meu berro cheio de fúria e dor
pelos telhados de vidro do mundo.




E espero
e escrevo.
Tristes versos.
Espero pelo dia em que eu possa me apossar de seus fardos
que você descanse a palma de suas mãos em meus ombros,
alegria para esses meus grandes olhos sombrios.
Aguardo.
Aguardo pelo dia em que possa te tirar do papel,
que me seja concedido mais que estes tristes versos.
Sonho.                                                                      
                                                                                            

quinta-feira, 4 de julho de 2013

Sem meias palavras

Tenho escutado o falatório dos que falam
a conversa do início ao fim,
mas eles não falam do começo ao fim
nem acredito que falem.

O que acredito
acredito em você, minha alma
o outro que sou não me distingue de você.

Porque sou tudo o que vai e tudo o que vem
que entra em colapso.
Porque penso de maneira diferente
porque suponho que morrer seja diferente daquilo que qualquer ser imagina
e mais feliz.

E, no mais
já me apresso em questioná-lo
o que há demais em morrer?
Quantos discursos de gente morta e viva ainda vibram por aqui,
quantas vaias são caladas pela ordem do decoro.


Tudo permanece da mesma forma
inexoravelmente inalterado.
Os vivos vivem como devem
os mortos morrem como devem.

E, permaneço aqui
escrevendo com o corpo e escrevendo com a alma,
usufruindo da bondade do céu que está em mim
ainda mais das peripécias do inferno que também estão em mim.
Vou aos vôos da alma fluida que flutua.

Digo-o mais.
A alma não é mais do que o corpo tem dito,
o corpo não é mais do que a alma tem dito.
Um grão de areia de terra não é menos que um dia de trabalho das estrelas.
Todos imensuravelmente iguais.

E quanto a você, morte.
Deixo o amargo abraço da mortalidade.
E quanto a você, cadáver.
penso que bem serve para nada,
que isso não ofenda.
E quanto a você, vida.
Creio que seja o resto de muitas mortes.
Sim, plenitude finda
pois tenho a certeza de que morri mais de vinte mil vezes.

A todos vocês
e à infinidade de mundos e coisas digo
não pergunte ao doente como se sente
adquira sua dor, pois
quem quer que caminha sem compaixão
caminha para o seu próprio enterro
vestido em sua própria  mortalha.