segunda-feira, 10 de março de 2014

Mármore

O melhor presente se dá através de palavras, só tenho a agradecer ao grande amigo Vinicius Mahier por essa homenagem. 



Teu mármore abrasa! E erotiza
Sensações corpóreas,
Como a vida!
(Fique a alma tranquila a contemplar-se além
Das sensações,
Criando-as, ao longe...)
Tantas dúvidas há em seus poemas,
Que eu me perco sempre
Descobrindo neles
Algo além de uma beleza frágil
Que me diz, me ouve,
Me transcreve
Na magia de aceitar temores, e recuos,
Como cruz em que a palavra
Finca as guerras (e as estrelas!...) da existência
E por elas escorrem...
(Teu mármore é brasa, é pele, é sangue,
É arte!)
Mundo, vasto mundo
Se eu me chamasse Mirele
Eu seria uma dúvida
Não seria uma solução.
Tanta beleza há em ser dúvida
E coexistir
Com a força!... com a garra!... com a coragem!
Com a tristeza, que é linda, pois perece
Como a artista que alimenta-a
E, redentora, se salva
E renasce!...
Diariamente, procurando a falta!
— Eu não deveria te dizer,
Mas essa cruz,
Essa palavra,
Esfaqueiam o meu espírito sem mármore,
E apenas sei sangrar
O avesso da solidão trivial:
Sua solidão, possível e amorosa...
Que zelo, solitário...
(Ao longe nossas almas dão-se as mãos...) 

                                                                     Vinicius Mahier

quarta-feira, 5 de março de 2014

Dedos



Que rabiscam na folha a morada
estabelecida e firme no universo.
Que sobre as linhas da juventude sem idade
esvai-se em palavras, apodrece-os.

Dedos que resenham as chagas de suas mãos
que, como as de Jesus em sua humanidade sofredora,
foi julgado.
A firmeza de um lápis expressando a covardia
de uma ânsia rara,
mutilação de sentimentos, e dedos.

Em sua letra de fôrma, a forma mórbida
do que um dia existiu como impressão digital.
E foi destruído, um a um, cada rabisco
daquilo que já não cabia em si.
Sem dedos, e esperança.

Foi acumulando poemas e perdendo polegares,
destruindo possíveis possibilidades e  
se jogando em abismos mentais.

Chorou com a ponta do grafite enquanto desenhava
um jardim em sua alma,
para não dizer que não falei das flores,
como Dalloway não pude, eu mesma comprá-las.   

Não restava-me uma única cutícula propícia 
a arrancar uma acácia que exalasse 
seu perfume sobre a podridão de minhas narinas.

Perdeu tudo,
a alma e a mão, a prolixidade
e a singleza das palavras, afinal,
como não poderia?
Já que a esta altura do poema já não restava-lhe mais
nada, nenhum sentimento ou coração.
Que dirá algum d