sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Aqui jaz a saudade



Humanidade não significa nada
se você não tem com quem se importar.
E penso nisso quando olho fundo
os olhos de meu pai.
 

Se um dia ele se for
e os noticiários anunciarem sua partida
nada será de mim.
Não serei mais que um corpo em carne viva
e sangrarei lágrimas de orgulho.

Suplicarei em ranger de dentes
as alegrias das tardes de sábado,
a polidez de suas pequenas entradas calvas e
sua voz rouca ao fim de mais um dia de trabalho.

Suas mãos,
sentirei falta de cada calo em suas mãos 
e de como eles me ensinaram o que é trabalho.



Se um dia meu pai se for
serei o monólogo sublime da saudade
e ao luar, rezarei a Deus
por tudo aquilo que nos une

que é bem maior do que o sangue que nos envolve.

Se um dia eu o perder
meu coração palpitará ferido
ao ver em seu inventário
a obra de arte mais preciosa
           seu amor.


Se o véu negro da morte o vier abraçar
implorarei por mais um olhar
e escreverei a mão livre.
Fazendo da tinta meu sangue,
da caneta meus dedos
e do papel sua lápide.

Aqui jaz a saudade.


 

  



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