Impessoal
Foi... Foi naquela conversa que eu, enfim, pude entender a razão da
vida... Confesso que não me surpreendi. Por que haveria, ora? Surpreendi-me foi
com a certeza de sua existência! Ainda acreditava que poderia ser ela um
delírio! Razões... Razões... E onde está a Vida nisso tudo?
Pois concluam, pelo exemplo: Daquela conversa, consigo me lembrar apenas
de uma constatação! Sequer de seu surgimento! Sequer de com quem conversei! Um
amigo... Minha mãe... Eu mesmo... Não me recordo... Nunca vou recordar! Porque
nada vivi ali além de uma defunta constatação!
— Onde está a Vida nisso tudo? Me pergunto de novo, acorrentado à posse
de uma constatação libertadora, com cara de verbo mal
conjugado! Respondo-me, depressa, sem que eu viva o silêncio necessário da
troca de travessões: — No futuro do pretérito, esse tempo impessoal inútil, que
insistimos em usar! E usaremos sempre! Meus eus agora entendem de razões... Meus eus também são inúteis!
Melhor seria eu ter dançado aquela música que tocou na escola primária e
me distraído dessas razões... Destas razões... Daquela conversa erudita que me
empobreceu como Vida! Ao menos, teria vivido, contente, os passos daquele tango triste, sem saber que era triste, sem ter virado depois um
tango morno aos passos de uma vida calculada!
Calculei-me e aqui estou: Uma dízima periódica, com cara de verbo
mal traduzido!
A única vantagem da frase feita sobre o
argumento é que a primeira é lida.
— Eu sempre procurei te
fazer feliz, mas só conseguia quando você estava triste. Sua felicidade sempre
foi egoísta com as minhas boas intenções.
Vinícius Mahier
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