sábado, 24 de maio de 2014

Face da loucura



Meu uníssono não soa em harmonia,
minha harmonia enlouquece
ao ouvir o relato dos que vivem a par da sociedade.

Julgam-se quem são os loucos, sendo os próprios.
Qual o limite? A sanidade ou a razão?

Lobotomizaram minhas lembranças,
trans-orbitalmente.
Separaram-me de minha existência
e o vazio sobrou para arrastar-me
a este manicômio residencial.

Fiz um CAPS de lembranças.
Recluso em minhas paranóias, devaneios e sonhos dilacerados.
Um vivo que enxerga o mundo com olhos de defunto.

A linguagem surgiu como forma de redenção,
salvando minha loucura da sanidade.
Palavras e versos como cláusulas pétreas.
Abandonar as metas, os prazos, viver
como louco.

Desatinado em minha esquizofrenia
ameaço o surto, surto.
No espelho a fronte em psicose encara uma humanidade sofredora.

Em meu hospital psiquiátrico, o da Rua Dom Silvério
o mesmo da rua ao lado, e do centro da cidade
e de cada esquina, de cada rosto exausto pela árida rotina
de ser “normal”.
Sozinho em frente ao espelho,
enxergo a face da loucura. 


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