domingo, 16 de junho de 2013

Poeta em sonho

Ser diferente é ser poeta.

Ser poeta é ter sede de nada,
é condensar o mundo em um só grito.
É ter o mar como soma de suas lágrimas
e o calor do sol como chama de sua vida.

Ser poeta é sonhar.
Sonhar que das cinzas surjam rosas,
que o eco dos passos dos que caminham pelas ruas
seja mais que sua derradeira rotina.
A qual enfrentamos a favor dos sonhos.

Sonhos altos
cada vez mais altos.

Sonho...

Sonho com grandes versos
inúmeros legados e obras.
Sonho com publicações, em lançar flores ao vento
deixar um pedaço meu em cada ser.

Sonho com uma suntuosa lápide em versos.
Sonho em não ser sombra, mais uma sombra em meio às sombras.
Sonho com a fumaça que escapa de minha boca e dedos.
Sonho, como Apolo, a desfolhar as mais belas flores.
Sonho com o êxtase impudor da juventude.
Sonho com a boemia, a vagabundagem e a poesia.

Sonho com o riso vindo da boca fria,
com o luar ouvindo minh'alma.
Sonho em ser miragem, ser estátua, ser coisa, ou coisa alguma.

Sonho...

Com enigmáticos jardins que me inspirem.
Sonho em ver as lágrimas brotarem de dentro da alma.
Sonho em esquecer para lembrar novamente.
Sonho em viver e embebedar-me de nuvens e flocos de neve.

Sonho porque adquiri o deslumbre de um poeta solitário.
Porque me edifiquei sonhadora.
Porque ando atrás de mim sem me largar.
Porque sou demasiado humano.
Sonho porque sonho em ser poeta.

Porque vivo de poesia.

(Mirele Longatti)


sexta-feira, 14 de junho de 2013

Detalhes






Por todas as vezes em que você veio  
às vezes.
Ah, as vezes.
As que eu desejava parar o tempo
estar ao seu lado.
Desfrutar dos tais mágicos momentos.

Almejo o tardar dos segundos, minutos, horas...
Desejo que o tempo pare até que eu mate a agonia
em não passar meus findos contigo. 

Se de ti estou perto perco a voz
não consigo nada mais fazer, a não ser,
observar.
Observo cada gesto fino
o movimento de suas mãos
obcecada em cada forma de expressão
cada detalhe.

Em cada tolice dita eu respondia em silêncio
não houve forças para dizer as vãs palavras ensaiadas ao espelho.
O maior confidente 
único a saber o que jamais tive coragem para falar.

Se dói? Não mais
acostumei-me a viver dos simples detalhes 
afinal, a vida não se descomplica apenas com palavras
daí meu repúdio à elas.

Gélido, tolo, leviano... Dispenso
Necessito presenças 
presenças por inteiro 
que estejamos presentes
não me venha com presentes
mas venha.

Venha por hoje
viva o momento
mesmo que eles não durem para sempre
que não durem nada 
mas que existam.

Que haja lembranças 
sórdidas? Talvez.
mero detalhe.

Ah, os detalhes!                                                                              

sábado, 8 de junho de 2013

Falha literária

Prévio insensato julgamento
o júri, ao ataque!
Defendera-me advogados do inferno 
à mercê das chamas de um condenado.

Se não há quem haja pecado
qual a razão de seu exército armado?

Talvez eu seja...                               
alma sem vida 
tão ou mais vazia que o vácuo
mera lembrança, ora saudade.

Sou...
Dona das lágrimas mais secas
possuidora de uma mente inquieta 
feita de vidro
estraçalhada em cada pedaço de meu corpo,
jamais com a rigidez de um diamante 
sem calma na alma.

Carrego comigo os mais tristes sentimentos 
carrego na mala as decepções que vivi,
mágoas eu adquiri e,
de tanta amargura me tornei doce
doce para os meus.

Biografo histórias
vasculho passados
arregaço lembranças
erro fatal.

Anseio em homenagear 
falha-me a lembrança do que ocorre 
da crueldade à tona em analisar minúcias do que já se foi.

Mania minha 
trazer de volta o que não deveria sair do lugar 
resgatar passados, meus e de outrem.
Triste engano 

Tornei-me o eco de minha solidão
cada gota de esperança foi seca
vida seca
evaporada pela rudeza do sol das manhãs gélidas de junho.

Já que fala em verso os que falam por emoção
fala em mim a ausência de voz
não mais sinto
tudo o que é sensorial foi arruinado,
um a um 
jogado às traças
não sinto
mas minto
apenas vivo
ou melhor,
existo.


(Mirele Longatti) 


 
 
 

terça-feira, 4 de junho de 2013

Mesa de bar


- Quanta gente, vai caber?
Tantos rostos, tantas histórias encobertas
tantos lugares que desconheço

Não importa de onde, eles vieram
longe ou perto, aqui estamos, iguais
unidos.
De norte a sul
São João sem seu céu azul.
Unidos pela escrita,
lecionadores de alma
lecionadores de dores.

E, se chegaremos ao final?
Gostaria realmente prever o futuro
como saber?
Prefiro não, para quê?
Se posso beber e esquecer.
Vira uma, duas, três e já falamos inglês.

Todos e eu, mais que colegas
os mais novos amigos de infância.