quinta-feira, 4 de julho de 2013

Sem meias palavras

Tenho escutado o falatório dos que falam
a conversa do início ao fim,
mas eles não falam do começo ao fim
nem acredito que falem.

O que acredito
acredito em você, minha alma
o outro que sou não me distingue de você.

Porque sou tudo o que vai e tudo o que vem
que entra em colapso.
Porque penso de maneira diferente
porque suponho que morrer seja diferente daquilo que qualquer ser imagina
e mais feliz.

E, no mais
já me apresso em questioná-lo
o que há demais em morrer?
Quantos discursos de gente morta e viva ainda vibram por aqui,
quantas vaias são caladas pela ordem do decoro.


Tudo permanece da mesma forma
inexoravelmente inalterado.
Os vivos vivem como devem
os mortos morrem como devem.

E, permaneço aqui
escrevendo com o corpo e escrevendo com a alma,
usufruindo da bondade do céu que está em mim
ainda mais das peripécias do inferno que também estão em mim.
Vou aos vôos da alma fluida que flutua.

Digo-o mais.
A alma não é mais do que o corpo tem dito,
o corpo não é mais do que a alma tem dito.
Um grão de areia de terra não é menos que um dia de trabalho das estrelas.
Todos imensuravelmente iguais.

E quanto a você, morte.
Deixo o amargo abraço da mortalidade.
E quanto a você, cadáver.
penso que bem serve para nada,
que isso não ofenda.
E quanto a você, vida.
Creio que seja o resto de muitas mortes.
Sim, plenitude finda
pois tenho a certeza de que morri mais de vinte mil vezes.

A todos vocês
e à infinidade de mundos e coisas digo
não pergunte ao doente como se sente
adquira sua dor, pois
quem quer que caminha sem compaixão
caminha para o seu próprio enterro
vestido em sua própria  mortalha.  



  

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